O que há na terra existe na água também e ninguém pode duvidar.(Seu Souza - Contador de Histórias)
Há
muito tempo quando Rio São Francisco era fundo e as suas águas causavam grandes
enchentes vivia por aqui um ser encantado conhecido como Nego d’água – na verdade ele
era um garoto danado como outro qualquer, o que o tornara diferente era a sua
maneira de viver e ver mundo através das águas, isto sim, era mágico.
Ele era pequeno, negro, da cabeça pelada e redonda, que brilhava como espelho. O Nego d'água morava
no perau, na parte funda do rio que não dava pé, fazia uma toca cavada e lá improvisava sua morada para não entrar água e nem nada.
O
Nego d’água adorava fazer
brincadeiras com os pescadores, vivia a assustá-los, provocando medo e terror. Os
pescadores costumavam respeitá-lo, ter simpatia ou fazer um pacto com esse famoso
habitante do Velho Chico.
Para
começar ele não gostava de ser chamado de Nego
d’água era ofensa e falta de respeito, era para chamá-lo de Compadre d’água.
Um
dia seu Miliano saiu para pescaria,
viajou um dia inteiro para o peixe poder pescar.
A
noite todos os pescadores se juntaram no acampamento para comer peixe assado e jogar
conversa fora. Numa dessas conversar o tal Nego
d’água apareceu, foi então que João
Mandim perguntou:
_
Nego d’água existe ou não existe?
Perguntou dando risadas.
Todos
deram risadas também.
_Existe
com toda certeza ... respondeu em versos seu Miliano.
_Vou
contar para vocês uma história que me sucedeu, não digam que é mentira, pois
tal fato aconteceu . Eu vi com esses olhos que um dia a terra a de comer.
_Sair
para uma pescaria lá pelos lados de Morro Pará, o rio tava fundo e o nego
estava a aparecer por lá. Só ouvia os comentários das traquinagens que ele
andava a aprontar. Até então não acreditava, pois eu nunca tinha visto,
desfazia todo instante do acontecido.
_Pensei e resolvi desafiar o Nego d’água.
De manhã cedo acordei, fui
colocar a minha rede para o peixe poder pescar e prometi um quilo de fumo para o
Nego me ajudar. De tardinha voltei, para minha surpresa a rede estava cheia de peixe e
muito contente fiquei.
_Mas, a promessa não cumprir e desfiz do Nego d’água.
_Esse nego não existe era
estória para boi dormir, a sorte era minha, usei da minha sabedoria e pesquei o
maior peixe que existia. E zombei do Nego d’água - esse bicho não existe e se existe eu quero
ver – foi o suficiente para o fato acontecer. Novamente sair para pescar coloquei
a minha rede e mais tarde fui buscar. Tive um grande susto, pois a rede estava
cortada, bem certinha em duas bandas como se tivesse sido cortada por uma faca
amolada. Fiquei atordoado, não acreditava no que havia acontecido o Nego d’água havia aparecido. Insultei o
danado e passei a ser perseguido. As minhas redes ele cortou e o meu barco
segurou com a força de quatro homens, fiquei preso por muitas horas, só consegui
sair depois de cumprir a promessa que prometi.
_E foi desse modo que passei a acreditar. E de Nego d’água nunca mais eu vou chamar.
Em memória dos pescadores Seu Miliano e João Mandim.
Por: Markileide Oliveira