sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBO

 ILHA DA CHAMPRONA
FORTALECIMENTO DE UMA IDENTIDADE QUILOMBOLA”

“A gente permanece sempre querer ser quilombo, e somos quilombos, porque, como lhe disse [a história narrada], nós vivemos no lugar de quilombo, como quilombo [escravo]. E hoje nós queremos esse reconhecimentos, porque nós dependemos dessa propriedade, nós estamos cercado, não tem pra onde nós ir, nós estamos querendo essa propriedade [reconhecimento enquanto comunidade quilombola]. Nós estamos lutando por causa dessa propriedade[1]


A comunidade da Ilha da Champrona busca, através de relatos orais, ser reconhecida pela Fundação Palmares como um povo remanescente dos quilombos, estes constituídos ao longo do tempo em várias partes do território brasileiro. A ilha da Champrona fica localizada na cidade de Xique-Xique, Bahia à 688 km da capital Salvador.
Depois de muitas lutas e resistência contra a escravidão e as tristes heranças deste passado histórico, os remanescentes quilombolas da ilha da Champrona se auto reconhecem como descendentes das pessoas que vieram da África e foram terrivelmente escravizadas no Brasil. 
Hoje, com conhecimento sobre a história das lutas dos seus antepassados, as horas trabalhadas e o sangue derramado na construção da pátria brasileira, os moradores desta comunidade fortalecem a sua identidade negra, veem a sua descendência como uma qualidade essencial e busca autenticá-la perante as leis.
As histórias narradas pelos moradores mais antigos da comunidade adquirem sentido quando comparadas a história dos africanos no Brasil. A luta pela sobrevivência, a partir do momento em que estes conquistaram a liberdade, se deu nos quilombos, esta ganha sentido quando grupo étnico tem cunho identitário, com isso as diferenças se fortalecem nas comunidades quilombolas.



[1] Pelo contexto histórico, a propriedade é de pertencimento da comunidade, que se auto reconhecem  remanescentes de quilombo.


 AS LAVADEIRAS




DE GERAÇÃO À GERAÇÃO










LOCAL DA MEMÓRIA

CASA DE FARINHA

A gente já vem com este ‘bucado’ de ano[1] que já vem do meu pai, que já trouxe de lá esta casa de farinha [tradição] e foi a coisa que ele mais me pediu, pra não deixar essa casa de farinha acabar [essa tradição acabar].  ‘Manele e já tô com 77 e poucos anos, eu sei que não vou ficar aqui, vou ter que me separar de vocês, não deixe essa casa de farinha cair, ela é criar meus netos é o lugar[2] dos meus netos.’ Ele queria deixar uma tradição para os meus netos verem e para os netos dele vê. Ela tá aqui de taipa, tô pedindo a Deus para ano que vem colocar uns calços nela aqui, porque ela não tá boa.”
Manuel Chumbada - 71 anos


[1] Pela lógica a história narrada se passa na época dos movimentos abolicionistas e faz referências a introdução do “negro” à sociedade da época, repleta de preconceitos e discriminações. Refugiar-se nos quilombos era única alternativa para todos aqueles que estavam inseridos neste contexto.
[2] Local da cultura, se torna uma permanência história repleta de significação e valores imateriais da cultura de um povo. 













MESTRES DA CULTURA POPULAR

"GRIÔS"

O saber conservado na memória dos griôs – pessoas que têm o ofício de guardar e ensinar a memória cultural da comunidade. Estes ajudam a compreender a história da comunidade, isto é, através das tradições orais, das histórias preservadas por mais de um século são como cacimbas de ensinamentos, pelas quais conseguimos entender a necessidade do reconhecimento. 







MUITAS HISTÓRIAS SE PASSARAM DENTRO DESSA CASA DE FARINHA

Já tô 76 anos e conheço de muitas coisas da tradição velha, aqui na casa de farinha não tem mais a roda que a gente fazia as massas, hoje já não tem mais, com o tempo as coisas vão mudando.
Antigamente a roda era puxada no braço, a gente é que puxava passava a noite inteirinha puxando roda para ralar aquela massa pra fazer a farinha, de dia a gente ia tirar mandioca na água, o dia todo na água e quando era de noite a gente ainda vinha pra cá (casa de farinha) puxar a roda [...]
Alberto Ferreira da Cruz - 76 anos












COMUNIDADE FORTALECIDA POR UMA IDENTIDADE QUILOMBOLA

“Dentro da casa de farinha era aquela alegria, era trabalhando e cantando a noite todinha, puxando a roda e cantando.”
"Vou me embora dessa casa oh piaba ê, oh piaba á, vou me embora desse mundo o piaba ê, oh piaba á.

Era o samba da roda."







É O BATUQUE DA CAIXA...

...O SOM DO PANDEIRO

E O PISAR DOS PÉS NO TERREIRO DA SENZALA.





“A gente sendo reconhecido lá fora, pode até ser que por esses meios, a gente acha meio de alguém dá providência e que tome as providências de vir uma melhora, uma coisa pra nos ajudar. É isso que a gente quer. Ser reconhecido.”
In memoriam Alberto Ferreira da Cruz












A COMUNIDADE 











ASPECTOS CULTURAIS 

Uma cultura repleta de significados, que ressaltam a importância das contribuições africanas e afro-brasileiras. As experiências compartilhadas ao longo dos anos ajudam a fortalecer uma identidade negra em construção, as histórias narradas remetem a um passado histórico marcado pelo preconceito e a inferiorização das comunidades quilombolas .
As histórias da ilha da Champrona adentram e permanecem como parte integrante da cultura nacional. Cultura essa expressada pelos mitos, lendas, contos populares, samba de roda, reizados, são Gonçalo, capoeira, benzedeiras, parteiras,lavadeiras, nos festejos de santos populares e tantas outras manifestações, costumes e lições de vida que embasam esse pedido de reconhecimento enquanto comunidade quilombola.
Hoje, se faz necessário fazer uso da palavra para fortalecer esse pedido, dando ênfase as práticas essenciais desta comunidade. Na cultura africana a palavra tem poder de ação, os discursos aqui ressaltados são tidos pela comunidade como verdade como remete a cultura africana.





 Uma comunidade que cultiva os elementos repletos de significados e valores comuns a um povo.








O bater da caixa, o som que se incorpora aos movimentos codificados dos terreiros das senzalas



GUARDIÃS E GUARDIÕES RESPONSÁVEIS POR RECRIAR A MEMÓRIA DOS FATOS E FEITOS DE SEUS ANTEPASSADOS.  





 




REFERÊNCIAS DA PESQUISA
Pesquisa etnográfica realizada por Marquileide Oliveira, graduada em Letra pela Universidade do Estado da Bahia _UNEB – 2007, Pós-graduada em Estudos Linguísticos e Literários pela mesma Universidade, 2009.
Crédito das Imagens : Marquileide da Silva Oliveira (Markileide Oliveira)
Celular: 74 99915 5330
FONTE BIBLIOGRAFICA
Mirian de Fatima Chagas. A política do reconhecimento dos "remanescentes das comunidades dos quilombos". Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832001000100009
Acesso às 14:30;.
Andreia Lisboa Santos, Ana Lúcia Silva Souza. Cantos e re-encantos: Vozes africanas e afro-brasileiras. Cultura Popular e Educação, 2008.


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