quarta-feira, 19 de novembro de 2014

XIQUE-XIQUE A CIDADE MAIS LINDA DO MUNDO


Temos o objetivo de desconstruir os olhares estereotipados a cerca de cultura que vivem "as margens", não as margens de um rio, mas de uma sociedade baseada nos padrões midiáticos. Damos ênfase a uma cultura rica na sua simplicidade, fortalecendo as diversas identidades que circulam numa mesma comunidade, que tem algo em comum que as identificam e que desperta um sentimento de pertencimento numa mesma cultura. Este é um dos fios condutor do nosso blog e fanpage...é mostrar aos quatro canto do mundo que Xique-Xique é o lugar onde o sol se põe de uma forma ímpar, que as luzes e os contrastes das cores completam a composição de um dos cenários mais lindos do mundo...Porque aqui é a nossa terra, o nosso pedaço de chão, o lugar cuidadosamente reservado por Deus e que devemos preservar no mais íntimo da nossa memória e do nosso coração.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O VELHO CHICO VOLTA A GANHAR FORÇA E EXUBERÂNCIA

Xique-Xique - Bahia - Brasil
Após um longo tempo de estiagem o rio São Francisco, mais carinhosamente conhecido como Velho Chico volta a ganhar vida, força e exuberância. O ano de 2014 foi um ano de muita preocupação para as comunidade ribeirinhas, o baixo nível das águas era alarmante, nunca na história da cidade de Xique-Xique o canal do guaxinim que nos liga ao rio São Francisco havia secado totalmente, no leito do rio passavam carros, motos, carroças... Era algo muito triste de se ver.

Markileide Oliveira
Ponta da Ilha - Xique-Xique
Uma grande tristeza tomava conta dos ribeirinhos que sofriam com a falta de água, a locomoção ficou praticamente impossível. Outrora o principal transporte era as barcas, os paquetes, os barquinhos de motos e de remo, de repente andar de barco não era mais possível, mudou-se então para o pau de arara. Com isso, mudou também toda uma cultura.
Os ribeirinhos não tinham mais tempo, as vindas à cidade passou a ser corrida e agitada. A sextas-feiras passaram a ter um contexto diferente, o da correria para não perder o pau de arara...





Porto da Ipueira - Xique-Xique

    
    Sexta-feira
Porto cheio, Ribeirinhos de várias comunidades se alojavam na Ipueira.
As barcas eram como uma casa de mãe, acolhiam e aconchegavam os viajantes que sem pressa esperavam pela sexta-feira... Havia tempo...
Tempo para ir visitar um amigo na cidade,
Tempo para narrar as histórias da beira do rio,
Tempo para sorrir,
Havia tempo sem pressa
...


A Ponta da Ilha havia secado por total, estava atravessando a pé de um lado para o outro no porto onde já ancoraram os grandes vapores...Hoje, já possível ver que o volume de água aumentou, já temos um pouco de água no canal do guaxinim, sendo possível a navegação com os barquinhos de motor e de remo.

Que felicidade meu Deus foi ver de perto o que os ribeirinhos já havia me relatado...Estas foram as primeiras imagens que tive de um dos cenários mais alarmante da estiagem do Velho Chico. Meu coração palpitou de alegria... é verdade sim, tem água onde já havia secado, o volume é ainda muito baixo, mas pude ver os ribeirinhos voltando para casa de barco. Não pude conter a emoção, havia uma heterogeneidade de sentimentos que me faziam levitar...
Para Deus nada é impossível, mas há respostas para as iniquidades dos homens.
 
Canal do Guaxinim

Os dias estão com ar de renovação
São essas voltas e voltas que representa o percurso natural do rio São Francisco... Uma composição da natureza e do seu Criador que o homem não tem o direito de desintegrar... de mexer, de decompor, de destruir...


Quanta beleza à margens do Velho Chico

Fotografia e Texto: Markileide Oliveira
Fanpage: https://www.facebook.com/xiquexiquecultura?ref=bookmarks




sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Com nascente seca, população teme morte do Velho Chico



A nascente do Rio São Francisco no Parque Nacional Serra da Canastra, hoje seca. Foto tirada por Thiago Melo em 8 de janeiro de 2010. Publicada no Flickr com licença do Creative Commons (CC BY 2.0)
A nascente do Rio São Francisco fica no Parque Nacional Serra da Canastra, município de São Roque de Minas. Este é o seu estado em janeiro de 2010. Foto por Thiago Melo (Flickr CC BY 2.0)
A chuva que caiu na Serra da Canastra no final de outubro não foi suficiente para alimentar as esperanças de que a nascente do Rio São Francisco, que secou em setembro pela primeira vez na história, se recupere. Mudanças climáticas, estiagem prolongada, incêndios e devastação gradativa do ecossistema da região são algumas das causas da morte do minadouro do rio, um dos mais importantes de toda a América do Sul. Esta nascente era, até então, considerada perene.
Na cidade de Iguatama, localizada no oeste do estado de Minas Gerais e primeira a ser banhada pelo São Francisco, o rio já está tão seco que os pescadores estão largando o ofício. Três Marias, a primeira represa do rio, está operando com 3,5% do seu volume normal e precisou ter a sua vazão reduzida. Segundo avaliação do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), se não começar a chover, a previsão é de que um trecho de 40 km de rio após a barragem seque completamente. Em Sobradinho, a segunda represa do Rio São Francisco, localizada na Bahia, o volume segue em 18%.
Com 2.863 km, maior do que a distância entre as cidades europeias de Madri e Berlim, o São Francisco banha cinco estados brasileiros – Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe – abrangendo 504 municípios e formando uma das principais bacias hidrográficas do país. Apelidado carinhosamente de Velho Chico, é também conhecido como o “rio da integração nacional”, por unir diferentes climas e regiões e ligar o Sudeste e Centro-Oeste ao Nordeste, e o “mais brasileiro dos rios”, por nascer e desaguar em território nacional.
Embora o rio ainda esteja correndo devido aos seus vários tributários, a seca da sua cabeceira é considerada um dos sintomas da grave crise hídrica pela qual o Sudeste vem passando. Para o sociólogo Roberto Malvezzi, a seca da nascente representa um luto histórico para o rio São Francisco e seu povo.
Nem o pior dos vaticínios nos anteciparia essa notícia. Agora não é mais previsão dos catastrofistas, dos apocalípticos, de ambientalistas sectários. Estamos diante do fato.
O Velho Chico morreu de sede, segundo o jornalista Carlos Costa, que disse ter sido “triste demais” ver a nascente seca:
Ele não perecerá por completo porque também recebe água de outros afluentes, mas sua nascente já morreu e está cercada de pedras como se fosse em volta de uma sepultura. Um quadro triste! O “Velho Chico” morreu de sede em sua nascente, como outros rios poderão morrer também se eles não forem tratados com carinho, respeito e responsabilidade como se fosse mais um ser vivo, como na verdade é.
Da Bahia, o blogueiro Edivaldo Braga lista alguns dos problemas que assolam o Velho Chico, e diz que ele pede socorro:
O Velho Chico está agonizando e prestes a morrer. A ponte que liga algumas cidades encontra-se completamente descoberta e denuncia o sério problema. A morte do rio significa o fim de muitos ribeirinhos.
O São Francisco é a única fonte de água doce para muitas populações ribeirinhas, que também dependem dele para pecuária, agricultura e transporte, via navegação. O blog e as fotos de Markileide Oliveira mostram como a vida está prejudicando a locomoção dos moradores da cidade de Xique-Xique, Bahia, que se abastece de um braço do Velho Chico:
O Rio São Francisco vem enfrentando uma das maiores secas da sua existência, as várias cidades das suas margens sofrem com a falta de água. São inúmeros os relatos dos ribeirinhos, que contam as dificuldades enfrentadas no seu cotidiano. Muitos caminham a pé pelo leito do rio até chegarem à cidade e fazem o mesmo trajeto de volta para casa. Alunos das redes públicas chegam a usar três transportes para ir à escola, acordam às 5h para poder assistir a segunda aula por que a primeira não é possível. Os ribeirinhos estão aportando os seus barcos nas margens de um rio seco. Sem profundidade, as barcas de médio porte não conseguem navegar e os barqueiros buscam outras formas de sobrevivência, pois o transporte coletivo ficou impossibilitado. Os ribeirinhos estão substituindo os barcos por bicicleta, carroças, carrinhos de mão, entre outras possibilidades de locomoção.
Carroça substitui a canoa em Xique-Xique, Bahia. Foto de Markileide Oliveira, publicada com autorização.
Carroça substitui a canoa em Xique-Xique, Bahia. Foto por Markileide Oliveira, publicada com autorização.

Com o nível baixo das águas os ribeirinhos atravessam o rio caminhando

Morte lenta e transposição
A devastação do entorno do São Francisco não é um problema recente e há anos vem sendo documentada tanto por especialistas quanto cidadãos. Em 2009, João Carlos Figueiredo, autor dos blogs Meu Velho Chico e Meu Velho Chico: memórias de uma expedição solitária (também disponível no formato de livro eletrônico), percorreu de canoa toda a extensão do rio em cem dias, remando sozinho desde sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até a sua foz, em Piaçabuçu, Alagoas. Sobre a notícia da seca na nascente, ele diz:
Estamos chegando, rapidamente, no limite de resiliência (capacidade de recuperação) de nosso Meio Ambiente. Passado esse limite, o Brasil, gradualmente, se transformará em uma gigantesca savana seca e estéril. Regiões desérticas substituirão as florestas e as nossas gigantescas bacias hidrográficas. E até mesmo os ignorantes donos do agronegócio verão seus latifúndios se transformarem em terra seca e inútil para a lavoura. Será esse o nosso destino final?
Lançado em 2012, o livro “Flora das caatingas do Rio São Francisco: história natural e conservação” traçou o mais completo perfil sobre a vegetação do Velho Chico, concluindo que a sua extinção é “inexorável”. Resultado de quatro anos de pesquisa e mais de 340 mil quilômetros percorridos por mais de cem especialistas de todo Brasil, o livro alertou para o perigo do projeto de transposição que pretende levar as águas do rio para os sertões, causando danos ainda maiores na caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, já extremamente ameaçado.
 Estação de Bombeamento do Eixo Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Foto: Moreira Jr. (CC BY-NC-SA 2.0)
Estação de Bombeamento do Eixo Leste do Projeto de Integração (transposição) do Rio São Francisco, outubro de 2014. Foto por Moreira Jr. (Flickr, CC BY-NC-SA 2.0)
A obra de transposição do Rio São Francisco, que já custou R$ 8 bilhões e ainda não está pronta, destinou menos de 10% de seu valor à revitalização de nascentes e matas ciliares. Segundo os críticos do projeto, a transposição deve beneficiar mais o agronegócio do que as populações carentes ou o meio ambiente. Roberto Malvezzi alerta que o processo pode inclusive acelerar a morte do São Francisco, que já é praticamente um rio intermitente:
Hoje ainda se fala na transposição, ela continua na mídia, por muitos considerada ainda como a redenção do semiárido. Vamos respeitar a ignorância dessa afirmação, afinal o Nordeste e o semiárido continuam desconhecidos para 90% dos brasileiros, mas vale lembrar que 40% do semiárido brasileiro está em território baiano, portanto, longe dos eixos da transposição.
Quantos ainda falam da revitalização? Alguém tem alguma notícia? O São Francisco continua em processo de extinção rápida e fatal. Mesmo assim fala-se em projetos de 100 mil hectares de cana irrigada em Pernambuco, 800 mil hectares de cana irrigada na Bahia, transposição para outros estados e assim por diante.
Certamente voltará a chover, o rio vai recuperar volume, mas as secas serão cada vez maiores e mais constantes. A NASA, anos atrás, projetava que o São Francisco seria um rio intermitente em 2060. Realizamos a façanha de antecipar a projeção em mais de 40 anos. 
Diante do presságio da morte irreversível do rio, o historiador Carlos Bittencourt pergunta “o que se está transpondo então?”:
Transpõe-se a seca, transpõe-se a água que acaba aqui para lá. Transpõe-se a barbárie do Sudeste ao Nordeste, aponta-se a proa do navio para o buraco. Soluciona-se a causa aprofundando as consequências. Círculo vicioso da acumulação de capital, da coisificação da vida e dos meios da vida. A transposição do Rio São Francisco bebe da mesma água de sua extinção.
Historicamente, a região Nordeste sempre sofreu com a seca. A novidade agora é que o Sudeste, onde está a nascente do São Francisco, também enfrenta grave escassez de água. Refletindo sobre o assunto, a geógrafa e blogueira paulista Martina Sanchez conclui que é preciso perceber que a natureza segue seu curso, seus ciclos e fases, e resta ao homem se adaptar:
Algo está confundindo os climatólogos que não acertam com as causas da seca prolongada no Sudeste neste ano (2014). Até as nascentes do Rio São Francisco na serra da Canastra (MG) secaram. O nível dos reservatórios da Cantareira, na cidade de São Paulo, está baixo e começa a comprometer o abastecimento. É o aquecimento global! Dizem uns. Outros acusam sobre o mau uso dos recursos hídricos, a falta de planejamento, o  excesso de consumo e desperdício. Todos têm razão e nenhum tem o direito de apontar o dedo para o outro. Os cidadãos terão que aprender a conviver com os extremos climáticos que não obedecem a decretos nem leis humanas.
Vista do Rio São Francisco a 8000 metros de altura. "Só pra você ter idéia da imensidão do 'Velho Chico'", por George Vale, publicada no Flickr com licença do Creative Commons (CC BY 2.0)
Vista do Rio São Francisco a 8000 metros de altura. “Só pra você ter idéia da imensidão do ‘Velho Chico'”, em outubro de 2012. Foto por George Vale (Flickr, CC BY 2.0)

Referência:
Artigo publicado pelo Global Voices no 02 de Novembro de 2014
Por: Paula Goés
Disponível em: 
http://pt.globalvoicesonline.org/2014/11/02/com-nascente-seca-populacao-teme-morte-do-velho-chico/
às 23:23 hs do dia 07 de Novembro de 2014

SOS Lagoa de Itaparica: Ações para recuperar a lagoa são planejadas em audiência pública  Nesta quarta-feira dia 28 de agosto de 2019...